"Onde estiver espero que esteja feliz, encontre seu caminho. Guarde o que foi bom e jogue fora o que restou. Pois acredito nos meus sonhos, eu acredito na minha vida. E no meio dessa guerra nenhum de nós pode ganhar."
Eu realmente não me contento com um simples e direto ‘se você pensa assim, o problema é seu’. É, não me contento. Muito pouco pra mim. Verdade que o problema é seu, mas só até determinado ponto. A partir do momento em que você resolve dizer o que pensa a respeito de alguém, e principalmente, opta por dizer isso a outras pessoas, o problema deixa de ser só seu. E particularmente, acho muito digna essa atitude de dizer o que se pensa a respeito de determinada pessoa. É... muito digno mesmo. Mas por outro lado audacioso demais. Sabe por quê? Aquela famosa analogia do João bobo: você bate, ele cai. Mas ele volta. E é onde peca a maioria das pessoas: elas olham o João bobo aparentemente indefeso e inofensivo e metem a porrada neles sem se preocuparem ou se darem conta de que eles voltam. E é essa a linha tênue que separa a audácia da tolice. Quando se faz afirmações tendenciosas como essas o mínimo que se precisa são fatos ou evidências concretas que fundamentem suas afirmações. Pois bem, o João bobo volta. E agora ta aí a minha volta:
1) “Para mim sua amizade comigo é pura conveniência.”
Sério Rafael? Você pensa mesmo assim? Bom, segundo o dicionário da língua portuguesa, conveniente é tudo aquilo que represente interesse, vantagem material e/ou social. Agora me responde uma coisa? Que interesse, vantagem material ou social sua amizade me proporciona? Nenhum. Talvez seja exatamente o contrário. Eu até arrisco dizer que 90% das pessoas do seu atual círculo de convivência foram consequência da nossa amizade. Se VOCÊ não tivesse se aproximado de mim na escola, talvez VOCÊ não conhecesse metade das pessoas que conhece. VOCÊ não teria metade dos amigos que você tem. Então acho que a hipótese de conveniência social nós podemos descartar, ne? Já a hipótese de conveniência material nós não vamos nem discutir, porque ne? Dispensa comentários as inúmeras vezes que já saímos sem que você tivesse um centavo no bolso. Eu acho realmente contraditório escutar que eu me relaciono com você por conveniência enquanto desde o principio quem forçou amizade foi você. Faça a proporção das pessoas que você já me apresentou com as que eu te apresentei. Impossível, ne? Não existe fração de denominador zero! É... Questão de matemática. Mas enfim, com fatos não se discute. Mas como só um absurdo na noite não seria o suficiente, você me solta outro:
2) “Você para mim é uma incógnita.”
Não, de verdade, essa foi a que mais doeu nos meus ouvidos. Então quer dizer que eu sou uma incógnita? Ok, sou uma incógnita! Mas é... quem disse mesmo? Rafa quem? Ah, ta! O garoto que brotou aqui na cidade ninguém sabe de onde, que já fez um tour pelo país inteiro criando problemas em todas as cidades que morou, filho de uma mãe que faz não sei o quê e de um pai que parece só existir na imaginação dele! Le-gal! Falou o Sr. Transparência!
3) “Você não é meu amigo de verdade.”
Ah, não? Por que mesmo? Porque eu não te escuto e porque os conselhos que te dou qualquer mendigo pode dar, não é? Agora falou o Sr. Amigo modelo! Uma coisa que aprendi desde muito novo é a jogar fora o que não presta e a guardar somente sentimentos bons. Quanto aos ruins, só faço questão de guardar o aprendizado. Por isso, poderia citar 10 bons motivos que fazem de você um bom amigo. Mas muitos poucos que digam o contrário. Não há espaço pra mágoas no meu coração. Mas daí a dizer que você é um modelo, é um salto muito grande. Então baixe a sua bola porque o fato de eu não reclamar nada com você não quer dizer que eu não tenha nada do que me queixar. Só quer dizer que eu tenho habilidades suficientes para lidar com suas imperfeições. Uma delas é que te acho extremamente mentiroso. Já até pensei que pudesse ser patológico, sério. Não tem um dia sequer que qualquer pessoa conte algo perto de você, que você não tenha algo de mais sinistro que tenha acontecido com você para contar. Mas eu nunca me importei com isso porque é uma característica sua e você não vai mudar. E o mais incrível é que você mente sem mudar a cara. Diversas vezes já te disse que eu sabia que você estava no fundamental quando estudamos juntos. Mas você insistia em dizer que estava no médio. Isso sem falar de quando você disse já ter pago a inscrição da prova de seleção da marinha. Você acha mesmo que eu acreditei? Essas coisas são burocráticas demais, dependem de divulgação de editais e eu não sou nenhum bobo. Mas mesmo assim, na hora fingi acreditar para não render assunto. Mas meu objetivo não é te acusar de nada e sim, te mostrar que você não é nenhum amigo modelo. Longe disso.
4) “Você não confia nos seus amigos.”
Quem é você pra me dizer uma coisa dessas? Uma pessoa que mentiu a idade pras pessoas nas quais dizia ser ‘amigo’ por mais de um ano? Se enxerga, só isso que te falo.
Bom, Rafael... Eu até poderia ter dito tudo isso somente a você. Mas como você também colocou em questão as minhas atitudes para com os MEUS amigos, eu acho justo me defender em público. Por isso resolvi postar no blog. Mas uma pessoa verdadeira e transparente como você não vai nem se importar com isso, eu tenho certeza! E já que nos relacionamos com as mesmas pessoas e frequentamos os mesmos lugares, sugiro que haja no mínimo respeito entre a gente para que convivamos no mínimo civilizadamente. Eu respeito a sua opinião e você respeita ‘a minha. Conviveremos bem assim. E embora eu tenha dito tudo isso e mesmo que amizade seja um sentimento que não vai mais existir entre a gente, eu não sou ingrato a ponto de não reconhecer os inúmeros momentos em que você foi meu amigo. Não vou me esquecer de quantas lágrimas você já secou, quantos problemas você já ouviu, quantas risadas você já me arrancou, quantos conselhos você já me deu, de quando ficou comigo no hospital, das vezes que choramos juntos, da música que me mandou, enfim... Foram muitos momentos bons e eu até poderia ficar aqui questionando o motivo disso tudo ou onde foi que eu deixei a desejar enquanto fomos amigos. Mas como já dizia uma das minhas escritoras prediletas, não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento… Obrigado por tudo e desculpa por também não ter sido perfeito. Se cuida, garoto!
domingo, 20 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Homens e Mulheres
Introdução
Homens não são confiáveis. Homens são pervertidos. Você acha que sabe o que eles vão fazer, o que querem fazer. Os homens fortes e corajosos que vemos nos filmes, livros e desenhos desde os quatro anos são uma fraude, não existem. Homens não são fortes, nem corajosos. Homens têm medo. Homens não são super-heróis, homens são apenas homens.
Mulheres querem que acreditemos que elas são vítimas. Que os homens partem seus corações por diversão. Elas dizem que querem amor verdadeiro, mas só querem uma lista de coisas. É perfeito, bonitão, rico? Se você preenche os critérios, não se iluda, pois não estão dormindo com você. Estão dormindo com uma lista cuidadosamente calculada de chances de venda. Dinheiro mais que caráter, beleza mais que alma, cavalheirismo mais que princípios. Nenhum gesto, por mais real ou romântico, vale mais que uma lista de credenciais.
Personagens
Pedro: Homem de meia idade, cursa o último ano da faculdade de psiquiatria. Vem trabalhando em cima de uma tese sobre as relações humanas para sua monografia. Aparenta ter uns 25 anos. É bonito e um tanto machista, mas possui um coração bom. Estabilizado, simpático, despojado, muito seguro e pouco complicado. Transparece ser insensível, o que camufla uma desilusão amorosa que vivenciou enquanto mais novo. Por isso, deposita uma certa incredibilidade no amor, possuindo aversão a relacionamentos. Embora ache Alice imatura, dramática e teimosa na maioria das vezes, sente um forte interesse por ela.
Alice: Mulher atraente, independente, meio feminista. É sonhadora, romântica, perspicaz e bem decidida. Bastante ansiosa e metódica, sonha em se casar. Já se relacionou algumas vezes, mas tem um conceito fixo do seu par ideal estereotipado em sua mente. Às vezes se torna maçante, mas é uma mulher encantadora. Se apaixona por Luca e acredita ter encontrado nele, todas as características necessárias para manter um bom relacionamento. Estudante de arquitetura na mesma faculdade de Pedro, aceita a proposta feita por ele que se consiste em ela o ajudar a testar sua tese em relação aos homens e, em contrapartida, ele a ajudaria a conquistar Luca.
Luca: Rapaz novo, bem sucedido, influente e um pouco narcisista. Formado em arquitetura, nunca teve grandes problemas na vida. Conhece Alice ao se mudar para a capital. Embora tenha alguns conceitos bem fundamentados é bastante influenciável, mudando fácil de opinião.
Parte 1 – O encontro
Alice estava ansiosa. Embora transmitisse segurança, o telefonema que recebera de Pedro na noite anterior a deixara apreensiva. Eles haviam marcado de almoçar em um restaurante próximo à faculdade. Durante a sua maratona de aulas pela manhã, Alice se pegou pensando algumas vezes no assunto que Pedro já havia adiantado. Sua intuição aguçada e as demais conversas que tivera com Pedro a respeito de relacionamentos diziam que aquele não seria um almoço dos mais agradáveis. Por diversas vezes ela hesitou em aceitar o convite, mas a proposta de Pedro despertou sua atenção. Pedro acreditava que Alice era o tipo de mulher a quem direcionava a sua tese. Mulheres controladoras, sentimentais e envolventes. Então a proposta feita foi a seguinte: Alice faria uso de sua tese testando assim a sua eficácia, e em troca ela conquistaria o homem de seus sonhos. Assim, Pedro ficaria feliz por provar a eficácia da tese que havia estudado e Alice desfrutaria do seu tão sonhado relacionamento. Alice tinha plena consciência de que discordaria da tese de Pedro em gênero, número e grau, mas embora quase nunca concordassem em algo, ele transmitia segurança e credibilidade em suas palavras. E apesar de não dar o braço a torcer, Alice sempre se interessou pelas teorias de Pedro.
Ao perceber que já haviam se passado 10 minutos do horário combinado, Alice avista de longe Pedro apontar na esquina. Pedro estava bem humorado e sorridente como de costume. Durante o almoço conversaram sobre os mais variados assuntos: política, televisão, calendário acadêmico de final de ano, entre outros. Ao terminarem suas refeições, Pedro surpreendeu Alice com uma pergunta que carregava consigo um ar sarcástico e intrigante:
- Alice, por que você me odeia? – perguntou Pedro com um sorriso no rosto.
Alice embora surpresa, respondeu sem perder o senso de humor:
- Não te odeio, odeio o que você representa!
- Então odeia a verdade! – retrucou Pedro.
- Seu conceito sobre as relações humanas não é a verdade.
- Mas seu namorado imaginário é verdade?!
A face de Alice corou instantaneamente à indagação de Pedro.
- Para sua informação, eu o conheci. – respondeu ela.
- Espero que seja verdade dessa vez, senão é patético.
- Ele é real. Muito real. Sem mencionar que ele é muito bonito e moralmente íntegro. Se chama Luca, é arquiteto, um homem bem definido, capaz de ter emoções maduras e amor profundo. Coisas das quais você não sabe nada. – alfinetou Alice.
- Ele é real. Muito real. Sem mencionar que ele é muito bonito e moralmente íntegro. Se chama Luca, é arquiteto, um homem bem definido, capaz de ter emoções maduras e amor profundo. Coisas das quais você não sabe nada. – alfinetou Alice.
- Talvez não. Mas sei de luxúria, sedução e manipulação. Coisas das quais você não sabe nada.
A face de Alice corava novamente enquanto Pedro continuava:
- Alice, eu faço um trato. Você confia em mim e faz o que eu digo.
- E em troca? – interrompeu Alice.
- E em troca você conquista esse cara.
- E se não funcionar? O que eu ganho? – questionou Alice.
- Em quatro meses eu troco toda a pauta da minha monografia acerca dos homens. Abandono todas as minhas crenças e defenderei a tese: ‘O quão sentimentais são os homens’! – respondeu Pedro deixando transparecer o olhar sarcástico e confiante de sempre.
- Você é realmente tão confiante? – indagou Alice um tanto desconfiada.
- Apesar de não admitir, sabe que eu sei do que estou falando. Você decide.
Alice deixou escapar um suspiro que transmitia uma ponta de indignação e ao mesmo tempo um olhar de quem se sentia realmente tentado a aceitar um desafio.
- Certo. Por onde começamos?
- Bom, temos muito trabalho a fazer. Vamos começar pelos pilares da minha tese: homens são simples e não podem ser treinados. Existem quatro regras básicas a respeito dos homens que você precisa conhecer. Regra número 1: NUNCA CRITIQUE.
- Nem se for construtivo? – questionou Alice.
- Nunca. Homens são incapazes de crescer, mudar ou progredir. Seu crescimento termina quando aprende a usar o vaso. Regra número 2: RIA DE QUALQUER COISA QUE ELE DIGA.
- E se não for engraçado?
- Isso é irrelevante. Uma risada fingida é como um orgasmo fingido. – enfatizou Pedro.
- Um orgasmo fingido é bom?
- Não, mas um orgasmo fingido é melhor do que nenhum orgasmo.
- Mas um orgasmo fingido não é um orgasmo. – retrucou Alice.
- Só pra você. Você não é a única pessoa no quarto, não seja egoísta! Regra número 3: OS HOMENS SÃO MUITO VISUAIS, temos que mudar suas roupas.
- O que tem de errado com elas? – perguntou Alice um tanto desapontada.
- Você transmite conforto e eficiência.
- O que há de errado com conforto e eficiência?
- Nada, mas ninguém quer foder com isso. E regra número 4: NUNCA FALE DE SEUS PROBLEMAS, os homens não escutam e nem se importam.
- Alguns se importam. – afirmou Alice.
- Não, alguns homens fingem que se importam. Quando eles perguntam "como você está?" é só um código para "deixa eu meter meu pau na sua bunda".
- Adoro como supõe que os homens são tão pervertidos como você.
- Não suponho, eu sei! – afirmou Pedro enquanto cruzavam a portaria da faculdade.
Parte 2 - Incertezas
Passaram-se 10 dias. Durante esse tempo Pedro instruiu Alice sobre como proceder seguindo a sua tese para conquistar Luca. Embora ela não concordasse com a tese sugerida por Pedro, eles estavam alcançando bons resultados, isso não tinha como negar. Ela já havia se aproximado de Luca, havia conseguido um encontro e eles estavam se vendo quase que praticamente todos os dias. Eles faziam uma espécie de jogo: Alice se mostrava pra Pedro, ele a moldava de acordo com a sua tese, e ela por sua vez, se mostrava pra Luca como uma pseudo-Alice adaptada de acordo com as teses de Pedro. Embora fosse indiscutível o vínculo que ela estava criando com Luca, também era bastante considerável a aproximação de Pedro nos últimos dias. Alice era grata a ele e não menosprezava a eficácia de sua tese nesse jogo de conquista. Era realmente impressionante o conhecimento que Pedro aparentava ter acerca de relacionamentos. Mas eis que com o passar do tempo, Alice percebeu o quão trabalhoso e disfuncional seria continuar com a farsa e fingir ser uma pessoa que ela não é. Alice estava realmente confusa. De um lado ela tinha o homem aparentemente ideal, por quem ela nutria um sentimento também idealizado. Do outro lado, ela tinha o oposto: um homem idealmente antagonizado. Pedro não era o homem de seus sonhos, longe disso. Mas ele a compreendia como mulher e a fez experimentar uma sensação singular: poder ser ela mesma em todos os momentos. Eles não se entendiam, raramente concordavam em algo. Mas apesar das diferenças e de talvez nem se darem conta, tinham algo importante em comum: eram apaixonados um pelo outro.
Enquanto terminava de se aprontar para mais um dia estressante, Alice pensava no encontro que teria com Luca mais a noite. Ela não podia deixar de considerar a possibilidade de assumir um relacionamento sério após aquele jantar. Seu temperamento intuitivo lhe dizia que ela precisava se decidir depressa. Mas ela estava confusa. Embora acreditasse ser apaixonada por Luca, não entendia o porquê de não conseguir parar de pensar em Pedro. Ela precisava entender o que estava se passando e decidiu encontrar-se com Pedro durante o intervalo.
Ela assistiu às duas aulas e logo em seguida foi à procura de Pedro. Ele já a estava esperando no refeitório, como combinado.
- Oi! Como passou a noite? – perguntou Pedro atenciosamente.
- Bem, obrigada! Só estou um pouco apreensiva com o jantar de hoje à noite.
- Ora, mas não é o que você queria? – Pedro parecia ansioso em ouvir a resposta de Alice.
- Não sei. – respondeu ela deixando transparecer insegurança em seus lábios trêmulos. – O que o fez assim? Quem foi a mulher que o fez ficar assim? – perguntou ansiosa.
- Assim como?
- Desacreditado no amor. – ressaltou Alice.
- Você está tirando onda com a minha cara, não é? – Pedro questionou com o habitual olhar sarcástico e desconfiado.
- Não, só estou interessada na sua história.
- Pois bem. – ressaltou Pedro. – Para sua informação, foi mais de uma. Foi tipo um desfile. Mulheres co-dependentes, infiéis, deprimidas, narcisistas, falsas. Mulheres que, na verdade, não gostavam de mim. Com o tempo percebi que só se agüenta relacionamentos ruins até descobrir que não existe bom relacionamento.
- Não acredita que possa existir um bom relacionamento? – interrompeu Alice desapontada.
- Com toda a certeza. – Pedro concordou ironicamente.
Alice não pôde esconder o desapontamento ao ouvir aquelas palavras. Embora ela já conhecesse Pedro suficientemente bem para saber o que ele pensava a respeito do amor, é como se uma parte dela quisesse acreditar que poderia ser diferente. Ao perceber a reação de Alice, Pedro perguntou intrigado:
- Mas qual o motivo dessa pergunta agora?
- Não sei. Eu devo ser uma boba mesmo. – respondeu Alice constrangida. – Preciso ir, não me sinto bem.
- Mas já? Não vai assistir ao restante das aulas? – questionou Pedro.
- Não, preciso ir. – afirmou Alice já se levantando da cadeira rumo à saída do refeitório.
- Ei, espere! – exclamou Pedro fazendo com que Alice recuasse. – Então é isso? É tudo o que tem a dizer?
- O que quer que eu diga?
- Não sei, você tem algo mais a me dizer? – perguntou Pedro.
Após uma breve pausa Alice respondeu decidida:
- Não. Se não se lembra tenho um encontro hoje à noite e preciso me aprontar. Preciso ir. Mesmo.
Pedro assistiu por alguns instantes Alice deixar o refeitório enquanto se culpava por não ter dito sobre os sentimentos que nutria por ela.
Parte 3 – O jantar
A noite estava linda. O céu estava coberto de estrelas e a lua brilhante como nunca. Eram 19h em ponto quando Luca tocou a campainha da casa de Alice. Ela terminou de se arrumar e eles saíram rumo a um famoso restaurante japonês da cidade. Era a comida preferida de Alice. Alice ainda estava apreensiva embora tivesse passado a tarde pensando. Após jantarem, Luca retirou a champanhe do balde que se encontrava sobre a mesa e ofereceu um brinde à Alice. Após virar toda a taça num gole só, Alice questionou um tanto agitada:
- Luca, por que gosta de mim?
- Porque você é linda, inteligente... – respondia ele.
- Não é o suficiente. – interrompeu Alice.
- Nunca critica, nunca tenta controlar a situação. Tenho que dizer, é um alívio! Conheço várias mulheres controladoras. Um pesadelo! E adoro que não seja assim. – continuou Luca.
- Mas eu sou. Sou exatamente assim! – exclamou Alice.
- O que quer dizer? – perguntou Luca confuso.
- Isto deveria estar gelado, você sabe disso. – continuou Alice se referindo a champanhe que estavam tomando. – Estava editando o meu discurso o tempo todo. E durante o jantar, na hora em que levou comida à minha boca, sofri dor física! Detesto ser alimentada como um bebê. É o quanto sou controladora.
Luca um tanto surpreso e desconcertado engasgou, enquanto Alice continuava:
- Não podia te mostrar isso, porque... Quem amaria alguém assim?
Depois de uma breve pausa Alice concluiu:
- Ninguém. Eu sinto muito. Você é ótimo, de verdade. Por isso tenho que falar que não fui eu mesma nem por um segundo durante o tempo em que estivemos juntos.
- Então quem você tem sido? – indagou Luca.
- A garota que um idiota me disse pra ser. – respondeu Alice já deixando o restaurante onde haviam jantado.
Parte 4 - Desfecho
No outro dia, Alice se sentia bem melhor. Se sentia feliz por poder ser ela mesma novamente. Mas por mais incrível que parecesse pra ela, o que mais a chateava não era o fato de ter rompido relações com Luca. O que mais a incomodava eram as conseqüências disso. Agora ela não teria mais um pretexto para continuar vendo Pedro. Embora ela não entendesse bem e também estivesse chateada com Pedro, ela queria o ver novamente. Decidiu procurá-lo no término das aulas. Quando bateu o último sinal, ela se dirigiu ao seu prédio e ficou esperando por ele na portaria. Após uns 5 minutos Pedro apareceu disperso com um jornal nas mãos. Passou por Alice sem se dar conta de sua presença. Alice então o puxou pelo braço e brincou:
- Não cumprimenta mais não, é?
- Não a havia visto, me desculpe. Tudo bem? – perguntou Pedro indiferente.
- Estou bem, preciso conversar com você. – adiantou Alice enquanto começavam a caminhar.
- Conversar sobre? Já sei! Talvez você queira me contar o quanto se divertiu transando com o babaca do Luca! – respondeu ironicamente.
Alice se enfureceu com o comentário de Pedro e num ato impulsivo respondeu:
- Terminei com Luca no jantar, idiota.
Pedro não pôde disfarçar a surpresa.
- O quê? – perguntou Pedro quase que não acreditando no que ouvira.
- Agora despertei seu interesse, não é? – respondeu Alice ainda nervosa. – Se acha que vamos acabar a conversa que começamos, está fora de si. Perdeu sua chance.
- Nunca tive chance com você. – interrompeu Pedro também alterado.
- Você está certo. – continuou Alice. – Tive um erro de julgamento momentâneo quando achei que fosse mais do que é, mas claramente não é.
- E o que quer dizer com isso? – questionou Pedro.
- ‘Oi, meu nome é Pedro e não acredito no amor. Não se apaixone, é apavorante!’ – exclamou Alice o chacoteando.
Após uma longa pausa Pedro concluiu:
- Sim, é apavorante. Terrível! Especialmente quando se está apaixonado por uma louca.
- Não sou louca! – exclamou Alice enfurecida.
- Acabei de dizer que te amo e tudo o que você ouviu foi louca? – contestou Pedro. – Você é a definição de neurótica!
- A definição de neurótica é uma pessoa que sofre de ansiedade, pensamentos obsessivos, atos compulsivos e sintomas físicos sem nenhuma evidência...
- Quieta! – exclamou Pedro. – Eu disse que a amo e você fica dando aula de vocabulário?
Após mais uma longa pausa na discussão, Alice questionou:
- Você diz estar apaixonado por mim. Por quê?
- Eu não faço idéia. Mas estou.
Pedro então segurou Alice pelas mãos, e a beijou.
Parte 5 - Conclusão
Passaram-se dois anos. Nesses dois anos, Alice e Pedro se formaram e começaram a namorar. Pedro embora continuasse estudando, estagiava em um dos maiores hospitais da cidade. Alice começou a trabalhar em uma conceituada empresa da área. Estavam levando uma vida relativamente estável e sempre faziam planos futuros.
Certo dia, em uma das encantadoras tardes que passava com Pedro durante as folgas, Alice se lembrou da última vez que havia se falado com Luca, há muito tempo atrás. Foi no dia em que jantaram pela última vez. Depois daquele dia nunca mais haviam se falado. Alice não pôde deixar de imaginar como seria a sua vida com Luca. Embora nunca tivesse se arrependido da escolha que fez, não podia deixar de pensar em como teria sido. Alice se lembrou então da pergunta que havia iniciado sua discussão com Luca naquela noite. Ela o havia perguntado os motivos que faziam com que ele gostasse dela. Se lembrou que também havia feito a Pedro essa mesma pergunta alguns dias depois. E em um momento de curiosidade, decidiu fazer a mesma pergunta novamente.
Antes que Alice tomasse a iniciativa de fazer a pergunta a Pedro, ele havia reparado em seu silêncio que já durava alguns minutos.
- Você está calada. – ressaltou Pedro. – Está tudo bem?
- Sim, claro! – garantiu Alice. – Só gostaria de te fazer uma pergunta...
- Pode perguntar, meu amor! – exclamou Pedro um tanto curioso.
- Você gosta de mim?
- Muito.
- Por que você gosta de mim?
- Porque você é bonita, inteligente... – respondia ele.
- Não é o suficiente. – interrompeu Alice.
Então Pedro abriu um sorriso tímido, olhou para Alice sentada de frente a ele e perguntou:
- Quer mesmo saber?
- Sim. Por que você gosta de mim? – perguntou Alice ansiosa.
- Porque você é linda, inteligente e me faz sentir o ser mais afortunado de toda a superfície terrestre. Porque eu adoro o modo como me olha quando pensa que estou distraído. E adoro também o seu olhar furioso de quando está aborrecida com algo. E adoro mais ainda o seu sorriso forçado de quando tenta fingir não estar se importando. Mas se for pra dizer sobre os seus sorrisos, o meu predileto é de longe o seu sorriso tímido de quando te deixo sem graça por dizer alguma indelicadeza. Eu gosto de você por ser o meu primeiro e último pensamento do dia, e gosto também pelas vezes que me tira o sono quando discutimos. Gosto de você por saber que às vezes pareço um babaca, mas que mesmo assim, tenho uma mulher maravilhosa ao meu lado. Gosto de você por seus exageros, seus ciúmes e atitudes impensadas. São eles que nos fazem discutir e me mostram que embora você seja uma mulher magnífica, não é perfeita. E porque ao descobrir que você não é perfeita, vejo a magistralidade do que sinto por você. Eu amo você!
Quando Pedro terminou, Alice não pôde conter a emoção e deixou escapar uma lágrima de seus olhos. Naquele momento ela teve a mais absoluta certeza de ter feito a escolha correta.
- Eu também amo você. – respondeu ela emocionada.
Inspirado no filme ‘The Ugly Truth’
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Fora
Mudo de opinião da noite pro dia, às vezes sou possessivo, manipulador e inconsequente. Quase sempre tomo decisões precipitadas, e sou muito impulsivo também.
Se você fizer alguma coisa que me chateie, por menor que seja essa coisa, eu vou transformar isso numa catástrofe e vou ficar remoendo a história na sua cabeça até você se desculpar e fizer algo que me agrade. Embora na maioria das vezes, nao demonstro de imediato que nao gostei de determinada situação. Eu costumo dar corda para saber até onde a pessoa vai. E no final, elas se enforcam.
Por isso, fique longe de mim!
Se você fizer alguma coisa que me chateie, por menor que seja essa coisa, eu vou transformar isso numa catástrofe e vou ficar remoendo a história na sua cabeça até você se desculpar e fizer algo que me agrade. Embora na maioria das vezes, nao demonstro de imediato que nao gostei de determinada situação. Eu costumo dar corda para saber até onde a pessoa vai. E no final, elas se enforcam.
Por isso, fique longe de mim!
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